Doença do refluxo: Em casos persistentes, patologia pode evoluir para câncer
- Fonte: Naiane Mesquita
Difícil existir alguém que nunca refluxo. O retorno do conteúdo gástrico ao esôfago provoca uma sensação ruim e costuma indicar um problema na digestão.
“Existem vários motivos para uma pessoa ter refluxo, podem ser mudadas de anatomia e de funcionamento do corpo ou questões técnicas analisadas pelo especialista”, explica o médico especialista em Endoscopia Digestiva e professor do curso de Medicina da Uniderp Thiago Alonso Domingos.
“O refluxo também pode ser resultado de atividades do paciente, como alguns hábitos alimentares e hábitos de vida”, complementa.
Eventualmente, o refluxo pode ser definido como normal. “Refluxo, por si só, é o retorno de conteúdo do estômago para o esôfago, é o retorno desse líquido, desse suco gástrico para o esôfago. O refluxo é algo natural, fisiológico, todos nós temos um pouquinho de líquido entrando no esôfago ao longo do dia ”, pontua.
Só é considerada doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) quando esse retorno acontece com bastante frequência ao longo do dia. “Quando a pessoa começa a ter essa regurgitação em grande quantidade e frequência ao longo do dia, isso deixa de ser algo normal e passa a ser uma doença”, pontua o médico.
Além da regurgitação, outro sintoma frequente é uma pirose, uma sensação de queimação retroesternal que se irradia do manúbrio esternal até a base do pescoço. “É aquela queimação atrás do peito, pode começar desde a boca do estômago até a região cervical”, frisa Domingos.
No caso da pirose, ela ocorre normalmente entre 30 e 60 minutos após a ingestão de alimentos, especialmente se uma alimentação para copiosa ou rica em gordura ou ácido, podendo ser aliviada após a ingestão de antiácido ou mesmo de água.
Além disso sintomas, há outras manifestações atípicas, como tosse crônica, asma, pigarro, pneumonia e bronquiectasia. Também podem aparecer mudanças otorrinolaringológicas, como rouquidão, otita e sinusita, e manifestações orais, como erosão dentária, halitose (mau hálito) e afta.
“Se não tratado, o refluxo pode causar no paciente consequências que vão além do desconforto. Um longo prazo pode causar mudanças no esôfago, que podem culminar em câncer de esôfago. Um refluxo não tratado a longo prazo aumenta o risco desse tipo de câncer ”, afirma.
Diagnóstico
Para um diagnóstico mais preciso, a principal ferramenta é a análise da história clínica. Uma entrevista do profissional de saúde deve identificar os sintomas característicos, sua duração, intensidade, frequência, fatores desencadeantes e de alívio, padrão de evolução no decorrer do tempo e impacto na qualidade de vida.
Caso o paciente apresente os sintomas no mínimo duas vezes por semana, em período de quatro a oito semanas ou mais, o diagnóstico da DRGE deve ser suspeitado.
Em casos mais graves, o médico pode solicitar exames complementares, até porque doenças como úlcera péptica, gastrite e câncer gástrico podem também ter os mesmos sintomas anteriores.
Alimentação
O médico ressalta que alguns alimentos costumam piorar os sintomas do refluxo.
“Alguns alimentos aumentam a chance de refluxo, como os ricos em cafeína, então, café, tereré, chá preto, energético, refrigerante, por exemplo, aumentam a chance de refluxo. Alguns condimentos, como ketchup, hortelã, o próprio molho de tomate e a bebida alcoólica também devem ser evitados ”, frisa.
Domingos ainda pontua que alguns hábitos podem evitar principalmente a regurgitação. “Além do alimento em si, hábitos de vida, como realizar grandes refeições, podem piorar os sintomas. O ideal é que o paciente coma pequenas porções várias vezes ao dia ”, explica.
Outras dicas do médico são evitar a ingestão de muito líquido durante e após as refeições e não comer e se deitar logo em seguida. “A obesidade também é um fator de risco para o aparecimento do refluxo”, frisa.
Segundo o médico, durante uma pandemia da Covid-19, as pessoas estão se alimentando mais e desenvolvendo a obesidade, o que é uma comorbidade para o vírus e pode prejudicar a saúde como um todo.
“Muitos diminuíram como atividades físicas e estão comendo mais, a população tem peso ganhado e isso aumenta mais conforme as chances de refluxo”, afirma.