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A nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande (Reme), do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, caiu novamente em 2021. Desde 2013 o município vem oscilando no índice e não conseguiu retomar o crescimento exponencial que teve de 2005 a 2011.

De acordo com dados do Ministério da Educação (MEC), em 2005, a primeira nota do município foi de 4,2. Após isso, foi crescendo gradativamente até 2011, quando atingiu 5,8. À época, a prefeitura era comandada por Nelsinho Trad (PSD).

Na gestão de Alcides Bernal e Gilmar Olarte, em 2013, houve uma queda para 5,4 pontos, número que permaneceu em 2015.

Em 2017, com uma nova mudança na prefeitura, a nota voltou a crescer durante a gestão de Marquinhos Trad (PSD) e passou para 5,7, permanecendo a mesma em 2019. No entanto, em 2021, esse índice caiu novamente para 5,4.

“Sabemos que a pandemia contribuiu para a queda do último resultado e estamos reestruturando a parte de formação pedagógica da Semed para que seja disponibilizada, aos professores e à equipe técnica das escolas, formação continuada e atendimento especializado às questões relacionadas ao Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)”, disse, em nota, a secretaria.

DADOS ARTIFICIAIS

Entretanto, segundo a professora doutora Maria Lima, docente da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o índice pode não condizer totalmente com a realidade, porque o Ideb “virou uma vitrine”.

“Vários pesquisadores têm denunciado que esse índice não demonstra efetivamente os problemas ou mesmo a aprendizagem dos alunos. Um dos maiores problemas é que uma escola sem infraestrutura é cobrada de ter um bom desempenho, e isso acaba gerando situações em que só bons alunos prestam os exames, por exemplo, produzindo dados artificiais”, comenta a educadora.

O Ideb é uma iniciativa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para mensurar o desempenho do sistema educacional brasileiro com base na combinação do aprendizado dos alunos, obtida em avaliações, e na taxa de aprovação, indicador que tem influência na eficiência do fluxo escolar.

Para o MEC, essas dimensões refletem problemas estruturais na educação básica brasileira e devem ser usadas para aprimorar o nível educacional do País. No entanto, o que educadores alertam é que muitos governantes não se responsabilizam pela falta de estrutura escolar e acabam culpabilizando outros fatores, como os professores.

“O Estado e seus governantes estão se desresponsabilizando em garantir que um ensino de qualidade seja ofertado, pois personalizam na figura do docente, única e exclusivamente, a responsabilidade por esse ‘mau’ desempenho”, relata Maria Lima.

DESAFIOS

Para a professora doutora da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Nádia Bigarella, construir uma escola pública de qualidade passa pelo enfrentamento das desigualdades sociais e pela articulação entre os sistemas de ensino e as unidades escolares.

“Mais importante que a nota do Ideb, que é igualmente importante, o município precisa criar ações que fortaleçam os sistemas educacionais inclusivos em todas as etapas, desde o acesso à educação básica obrigatória e gratuita”, detalha Bigarella.

IMPACTO DA PANDEMIA

Especialistas ressaltam que o impacto da pandemia da Covid-19 na educação, principalmente no ensino público, destacou as desigualdades sociais. Bigarella enfatiza que a pandemia provocou o afastamento das crianças das escolas pela adoção do ensino remoto ou híbrido, que ocorreu sem planejamento prévio.

“Os profissionais da educação trabalharam muito, mas não conseguiram atender as necessidades dos estudantes, por isso optou-se pela aprovação automática, ação que não refletiu a realidade da qualidade do ensino naquele momento caótico”, relata a professora Nádia.

As questões psicológicas também foram levantadas pela professora Maria Lima, tendo em vista que o adoecimento em massa de docentes é um fenômeno visto não apenas no Brasil, mas em outros países como Inglaterra e Estados Unidos.

“Houve mortes [de alunos e de professores], impactos emocionais muito fortes, porque grande parte das crianças de classe popular não tinha recursos para acessar as redes. E mesmo que tivessem, crianças e adolescentes sofreram muito com o tipo de relacionamento que as redes sociais exigiam”, diz a educadora.

Além dos profissionais da educação serem responsabilizados por problemas de todas as ordens de uma escola, ainda há a dedicação aos sistemas de avaliação de larga escala. “Hoje, um docente ocupa ao menos uma semana inteira a cada mês preenchendo sistemas”, comenta Lima.

NOTA ESTADUAL

As escolas estaduais também realizam as avaliações do Ideb. De acordo com o MEC, os índices da Rede Estadual de Ensino (REE) progrediram gradativamente até 2019, quando registrou 5,5 pontos. No entanto, em 2021, houve uma queda, para 5,0 pontos nos primeiros anos do Ensino Fundamental.

Segundo a Secretaria de Estado de Educação (SES), as escolas estaduais atingiram 5,7 no Ideb de 2019, e em 2021 a nota caiu para 5,2. A Pasta não apontou motivos para a queda nos índices e reforçou a necessidade de “um estudo mais aprofundado de todos os fatores, sejam eles intra ou extraescolares”.

A SES também afirmou, em nota, que “implanta e implementa ações e programas voltados à educação do Estado, no intuito de atender às metas estabelecidas nos planos nacional, estadual e municipal de Ensino”.