Os promotores do terror
- Fonte: Por Samuel Nunes
Nos últimos dois meses, vários atores contribuíram para a barbárie golpista que tomou conta de Brasília, num dos dias mais tristes da história do país. Os grupos bolsonaristas que se aglomeram em quartéis desde o resultado das eleições são orquestrados por pessoas que não aparecem regularmente em público.
Em Brasília, Oswaldo Eustáquio e Ana Priscila Azevedo tiveram papel fundamental. Eles não atuam diretamente juntos, mas o discurso de um ajuda o do outro nas narrativas golpistas. Os dois trabalham para colocar medo e incentivar as aspirações golpistas na capital em grupos que o Bastidor acompanha.
Ambos fornecem aos manifestantes informações falsas e incentivam atos extremistas. A retórica serve para alimentar os anseios e os medos dos acampados em frente ao quartel general do Exército. O Bastidor já havia demonstrado como os dois atuaram na tentativa de invasão à sede da Polícia Federal, em dezembro.
Durante a semana passada, a atuação de ambos contribuiu para a barbárie deste domingo. Na quarta-feira, Eustáquio fez uma live com o suplente de deputado federal Renato Garparin, do Republicanos do Paraná, na qual incentivou a ação que aconteceu neste domingo.
Em grupos do Telegram mantidos por Ana Priscila, o vídeo de Eustáquio começou a ganhar tração entre os seguidores. Na sexta-feira, os primeiros ares da invasão já eram mais factíveis. Ana Priscila divulgou uma espécie de manual, sobre como os manifestantes deveriam se vestir neste domingo, a fim de tentarem evitar a truculência policial.
O vídeo de Eustáquio ganhou destaque nacional e foi um dos motivadores para que milhares de manifestantes decidissem ir a Brasília. Os primeiros começaram a chegar ao acampamento na sexta-feira à noite.
Quem são esses dois?
Ana Priscila Azevedo se diz intervencionista: não importa o presidente, quer um governo militar. Ela defende abertamente o armamento da população e o uso da força. É uma das grandes responsáveis pelo discurso das “72 horas”, que ficava prometendo alguma ação de militares contra a eleição de Lula – o que nunca aconteceu.
Eustáquio é velho conhecido do Bolsonarismo. Em 2020, foi preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito das milícias digitais. Ganhou notoriedade dentro do governo a ponto de conseguir uma nomeação para a própria mulher, Sandra Terena, no Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos. Terena saiu de sob suspeita de corrupção.
O roteiro do desastre
No sábado, ainda sob informações desencontradas, os manifestantes estavam perdidos, esperando a chegada de mais ônibus à capital. À noite surgiram vídeos de grupos gritando palavras de ordem na praça de alimentação de um shopping de Brasília.
Durante a manhã, os primeiros manifestantes começaram a se concentrar nas proximidades do Congresso Nacional. Ainda eram poucos até o meio-dia. Foi neste momento que Ana Priscila voltou a atuar, forçando os seguidores dela a divulgarem uma convocação para quem estava no quartel ir à Esplanada.
Houve alguma resistência, mas quem sugeria a manutenção do ato no quartel era taxado de “petista infiltrado”. Marcaram um horário e, por volta das 13h30, milhares de pessoas seguiram à Esplanada.
Por volta das 14h15, já havia os primeiros vídeos de marcha em direção à sede dos Três Poderes. Cerca de meia hora depois, vieram os vídeos da invasão ao Congresso. Na sequência, os alvos foram o STF e o Palácio do Planalto.
No auge da confusão, Ana Priscila começou a publicar vídeos em que comemorava a ação. Em um deles, ela debocha de uma caminhonete da Polícia Legislativa, que foi empurrada para a lâmina d’água, em frente ao Congresso.