• Fonte: Graziela Rezende

As redes sociais estão inundadas de lembranças de “aniversário de morte”. É como um soco no estômago imaginar que, há um ano, a vacinação caminhava a passos lentos e o número de mortes pela covid ainda era muito alto, algo muito diferente do cenário atual, com mais de 90% da população do estado imunizada. Para quem ficou, restaram lembranças e homenagens, muitas vezes, postadas nas redes sociais como uma forma de expor os sentimentos, receber afago e mostrar o quão importante era aquela pessoa.

Em março de 2021, por exemplo, análises diárias dos boletins epidemiológicos apontam que este foi o mês mais letal no país, quando se fala no novo coronavírus. No dia 1°, por exemplo, tivemos 1.339 vítimas. Já no dia 10, 1.826 vítimas e o pico ocorreu no dia 22 de março, quando houve a morte de 2.327 pessoas em um só dia. No último dia do mês, o recorde de óbitos foi de 3.950 em 24 horas.

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Vacinação contra covid. Foto: Divulgação

Ao mesmo tempo, a vacinação ainda caminhava a passos lentos. Menos de 10% da população estava imunizada.Em Campo Grande, por exemplo, a prefeitura anunciava a imunização dos idosos, na faixa de 75 anos para mais, além de profissionais da saúde com 50 anos ou mais. A segunda dose também estava disponível, mas, na faixa de idosos acima de 80 anos.

Com o aumento exponencial de casos, risco de variantes e vacinação lenta, houve quem, infelizmente, não resistiu à doença. Um ano depois, a situação aparenta certo controle e a covid caminha para ser tratada como uma doença endêmica. Tanto que está ocorrendo o relaxamento de medidas restritivas, como o uso de máscaras, por exemplo.

Mas, para quem perdeu um ente querido, não há consolo. Há tristeza, há revolta, há sentimento incumbido. No caso da jornalista Súzan Benites, de 32 anos, a tragédia foi devastadora. Em 8 dias, ela perdeu pai, mãe e irmão diagnosticados com covid.A família foi dizimada no mês de março de 2021. Atualmente, um ano depois, ela refaz perguntas, revive momentos e fala que aguarda o momento do reencontro.

No caso do irmão, Súzan comenta que são “31.536.000 segundos à deriva”. “Há um ano eu revivo a todo segundo o pior dia da minha vida, eu refaço as mesmas perguntas e continuo não encontrando nenhuma resposta. Quando o médico me disse que você tinha me deixado aqui eu rezei pela última vez com fé de verdade. Eu pedi a Deus que me levasse também porque eu não queria ficar sozinha nesse mar escuro onde habito desde então. Apesar de não me lembrar de muitos e muitos minutos depois de ter sido informada, eu lembro exatamente de como me senti. E cada um desses segundos me fazem sentir uma dor ainda maior”, postou, recentemente, na rede social.

Sobre a dor, ela fala que “não vai passar”, mesmo sentimento que possui quando se fala na mãe dela e se refere a “365 dias na escuridão”. “Há um ano minha luz se apagou. Nesses últimos dias tenho revivido segundo por segundo e repassado infinitas vezes nossas últimas conversas, o último abraço, o último beijo, a última esperança…

Naquela noite, o chão se abriu e eu caí na primeira parte da cratera que se abria diante dos meus pés. Eu só me perguntava como contaria ao Rafa e ao Papi que tínhamos perdido nossa moleca arteira. Esse dia não chegou, eu não pude dividir com eles essa dor. Ah mãezinha se você soubesse o quanto cada minuto dói. Cada dia é uma luta diária, cada segundo sua ausência dói”, lamentou.

A educadora física, Luciene Martins, também perdeu a mãe para a doença há pouco mais de um ano. A mãe dela, Maria de Lourdes Martins da Silva, de 72 anos, se dedicou à enfermagem por 40 anos e só voltou para casa no dia em que estava “abatida e fraca”. Só que o diagnóstico da covid a fez voltar para o hospital e ela faleceu após 10 dias.

Na rede social, a filha lamenta: “Nem acredito que já passou 1 ano. Como você me faz falta. Esse rostinho me traz boas lembranças. Quero encontrá-la logo, tá muito chato por aqui”. Ao mesmo tempo, o outro filho de Lurdinha, como ela era conhecida, complementa: “Também aguardo o dia de ver a minha mãezinha!”

Por muitos anos, a técnica de enfermagem viveu em Portugal, algo que levou os filhos para o exterior também por um período. Na época, ela também participava de ações voluntárias na Ilha de Bubaque, na África, e para retribuir tanta dedicação, os filhos de Lurdinha sempre são agraciados com vídeos de agradecimento ao trabalho prestado por ela.